vendredi 25 mars 2016

Um olhar sagrado - Un regard sacré



       Um olhar sagrado é um olhar livre, com desejo de tudo saber sem muitos "porques", é um saber selvagem, parte de um pensamento também selvagem como por exemplo os indios Kamaiurá que em primeiro lugar, manifestam apenas a vontade despertada pelos seus sentidos. Como afirma Carmen Junqueira, grande amiga, uma mulher sagrada da antropologia brasileira:

(...)eles possuem uma maneira especial de observar as coisas, olham os detalhes buscando a qualidade das coisas, eles as sentem, as tocam, experimentam o sabor de cada uma delas. Em um exame lento, delicado, exigindo dos sentidos a mais precisa sintonia, permitem-se perder no tempo estabelecendo seus ritmos e seus limites. O tempo parece solidário com a vontade de saber(...)

      Como nós reagimos quando descobrimos um desconhecido, ou melhor, o desconhecido? Na verdade, somos capazes de ver uma riqueza de relações, de semelhanças e de oposições escondidas nas aparências médiocres das coisas materiais quotidianas? Vemos o mundo a partir das nossas crenças, e algumas vezes, nossos corpos aprisionam-se nas representações ligadas à este olhar. 
      Os homens civilizados necessitam de modelos, afinal, desejamos o desejo do outro, desejamos o que é desejável e quando o deixa de ser, nos lançamos à uma nova aventura imitando ou cobiçando os quereres do outro, Um desejo mimético, segundo René Girard, o outro torna-se um rival, o outro torna-se um inimigo.
      Talvez cultivando nossa vontade de saber , com olhares livres e sagrados como os indios Kamaiuráspoderemos ser mais felizes com aquilo que somos e temos, 

                                                                                 Rosane de Andrade

      trecho do livro  Fotografia e exotismo, olhares sobre os corpos brasileiros

      ************************************************************

        Un regard sacré est un regard livré, avec le désir de tout savoir sans une méthode qui multiplie les « pourquoi », c’est un savoir « sauvage », partie d’une pensée aussi sauvage, comme chez les Kamaiurá, affirme l’anthropologue et grande amie Carmen Junqueira, qui, en premier lieu,  manifeste une volonté de découvrir, une volonté liée à l'expérience de tous les sens.  

   « (…) Ils ont une manière spéciale d’observer les choses, en faisant attention aux détails, comme s'ils en cherchaient les qualités, ils sentent, touchent, goûtent la saveur des choses. C’est un examen lent, délicat, qui exige des sens affinés, et ne laissent pas le temps de se perdre, ordonnant et se définissant des rythmes et des limites. Le temps semble solitaire avec la volonté de savoir. (...)  Il est possible, aussi, que l’utilisation profonde des sens stimule la création mythique, en élargissent les registres de l’imagination, permettant de voir une richesse de relations, de similarité et d'opposition cachées dans l'apparence ordinaire des choses matérielles quotidiennes. »

    On peut se poser la question suivante : comment réagissons-nous lorsque nous découvrons un inconnu ou l’inconnu ? Qu'est-ce que la volonté de savoir selon un point de vue occidental ? 
    Selon René Girard, il y a le désir et la volonté d'un nouvel objet, les hommes ont besoin de modèles pour désirer, on désire le désir de l'autre, on désire le désirable lorsque l'ancien n'est plus désirable, on se lance dans l'aventure obsessionnelle d'un désir toujours imité de l'autre, le désir mimétique. L'autre devient un rival, l’autre est un ennemi.
    Peut-être, si on développe notre volonté de savoir, avec les regards livres et sacrés selon les  indiens Kamaiurá, nous pourrons être plus heureux avec ce que nous sommes et ce que nous avons.

                                                                                                   Rosane de Andrade

                                 extrait du livre Photographie et exotisme, regards sur les corps brésiliens, p.34


                                série saison                                                           rosane  2015

jeudi 24 mars 2016

A construçao do olhar

     Olhar é uma condição humana, mas o entendimento, por este mesmo olhar, é uma busca eterna, algumas vezes fascinante e desgastante. É fascinante porque a contemplação da beleza do mundo encanta e nos emociona. O desejo de aprofundar no desconhecido, leva-nos em direção ao outro e nos impulsiona a transformar tudo o que estamos acostumados a ver. Os homens são parte do mundo e desenvolvem-se com as coisas do mundo, eles estão lá para serem tocados, sentidos e vistos.
   "Ser e aparecer se coincidem. Os seres vivos são sujeitos e objetos, percebem e são percebidos ao mesmo tempo ", diz o filósofa Hannah ArendtO outro que me olha é o que me faz existir. Na verdade, o olhar dos outros é um espelho que nos reflete uma imagem da nossa aparência e que nos coloca face a face ao nosso corpo. 
Mas, o corpo que observa também é observado. Este corpo que olha é visível ... " também pode ver e se identificar com aquilo que vêem (...). Ele se vê vendo, tocando o que toca, é visível e sensível para si mesmo. "

                                                         Rosane de Andrade 

        Fotografia e exotismo, olhares sobre os corpos brasileiros , Paris, l'Harmattan 2015. p.17  

********************************

    Regarder fait partie de la condition humaine et, pour comprendre cela, par ce regard même, il faudra suivre une recherche « éternelle », à la fois fascinante et épuisante. Elle est fascinante parce que la contemplation de la beauté du monde nous enchante et nous passionne. Le désir de plonger dans ce qu’il y a d’inconnu nous conduit à l’Autre et nous pousse à transformer tout ce que nous sommes habitués à voir. Les hommes font partie du monde et se développent avec les choses du monde. Ils sont là pour être touchés, sentis et vus.
      « Être et apparaître coïncident. Les êtres vivants sont sujets et objets – apercevant et étant aperçus en même temps », affirme la philosophe Hannah Arendt.[1] 
   Le regard des autres sur nous est ce qui nous fait exister. En effet, le regard de l’autre est un miroir qui nous renvoie une image de notre apparence et qui nous met face à notre corps. Mais le corps qui observe est aussi observé. Ce corps, à la fois voyant et visible, « peut aussi se regarder, et se reconnaître dans ce qu’il voit (…). Il se voit voyant, il se touche touchant, il est visible et sensible pour soi-même »[2].


                                                                                                  Rosane de Andrade
               extrait du livre "Photographie et exotisme, regards sur les corps brésiliens" pg. 17                                                                                                                          


[1]Arendt, Hanna, La vie d’esprit, penser, vouloir, juger, Rio de Janeiro, Éditions Relume Dumara, 1992, p. 20.
[2]Merleau-Ponty, Maurice, L’œil et l’esprit, Paris, Éditions Gallimard, 1965, p.18.



lundi 21 mars 2016

Guardar as flores do jardim secreto

     

Guardar as flores do jardim secreto
Preserver les fleurs du jardin secret


     Durante 2 anos trabalhei com mulheres maravilhosas em uma casa de repouso em Drancy, na França. Mulheres como Madame P. que carregava na alma a alegria passada nas boites de Montparnasse, uma das  primeiras gerentes da noite gay  na década de 40 e 50. Ela sabia reconhecer a alma humana , sem discriminação, apertava as mãos das companheiras afetadas pelo sofrimento do envelhecer ou em alto grau de demência. Ela fazia rir , com seu olhar sedutor, as enfermeiras, os médicos e me dava força para continuar animar a vida daqueles que esperavam a morte. Ela me seduziu, trocando secretos dos nossos jardins, me prevenia com toda sabedoria: "Atenção, bela mulher, não entregue tudo, guarde para você  as flores do seu jardim secreto " e em respeito à ela e em sua homenagem, eu apresento os Traços, apenas os "Traços de um jardim secreto" e desta flor-mulher, eu guardarei para sempre seu perfume. Obrigada.
              Pendant 2 ans j'ai travaillé dans une maison de retraite avec de femmes extraordinaires, à Drancy, France. Femmes par exemple comme Madame P. qui portait dans son âme la gaîté des boîtes de nuit de Montparnasse. elle était  entre les pionnières à gérer une maison gay dans les années 40/50. Madame P. savait reconnaître l'âme humaine, sans discrimination, elle souvent caressait les mains de ses copines en souffrance par la démence sénile ou  dépression. Elle faisait rire tout le personnel avec son regard séducteur, les médecins, les enfermiers et moi-même; elle me donnait la force nécessaire pour animer la vie de ceux qui attendaient la mort. On a échangé de secrets des nos jardins secrets, mais elle me prévenait : " Attention, belle femme, vous ne pouvez pas tout donner, gardez les fleurs de votre jardin secret" et à elle et en respect à sa sagesse je vous présente les Traces seulement le Traces d'un jardin secret et de cette fleur-femme je garderai pour toujours son parfum. Merci.

jeudi 17 mars 2016

A artista que sempre fui

     A artista que sempre fui...ou melhor sou

      Por que insistimos ser aquilo que não somos? Mas vamos falar a verdade, no mundo de hoje fica dificel saber o momento certo de nos liberarmos dos personagens que criamos: mulheres, e filhas, e fortes, e independentes, e liberadas, e intelectuais, e esposas, e lindas, e executivas, e bem e de bem com a vida. Mas o que é ser artista? Com certeza é deixar de ser tudo isto e apenas permitir fluir o que é, o que somos quando olhamos ou comtemplamos.
A imagem acima é uma obra criada a partir de uma fotografia de uma canoa quebrada submersa no lago de Kerala na India. Ela faz parte da exposiçao Traços de um jardim secreto, um conjunto de 36 obras, que a partir de 04 de abril estarao em Paris na galeria Atelier 213, em Faubourg Saint Antoine. A partir de hoje vou colocar as historias que acompanham estas imagens, historias que contam um pouco deste meu jardim secreto, dos personagens que eu enxerguei e dos lugares em que eu vivi.
        Pourquoi on insiste sur ceux qui nous ne correspondent pas? C'est vrai que deviens plus difficile dans le monde d'aujourd'hui choisir un moment précis de nous nous libérer de tous les personnages: femmes et filles et fortes et belles et indépendantes et intellectuelles et épouses et du bien et vivre bien..Artiste, qu'est-ce que ça veut dire? Probablement laisser tomber tout ça et ....se laisser aller , flotter en regardent et contemplant la vie. L'image au-dessous c'est une oeuvre crée à partir de une photographie prise pour moi à Kerala en Inde d'un bateau submerge dans un lac.Elle fait partie de mon exposition Traces d'un jardin secret que à partir du 04 avril seront à Paris dans l'atelier 213 Faubourg St Antoine 75011. A partir d'aujourd'hui je vais raconter un peu des histoires du mon jardin secret , ses personnages et des lieux que j'ai vécu.